Manifestação reúne pessoas contrárias a uma polêmica reforma que o presidente François Hollande promete executar em junho
O protesto, que teve apoio da Igreja Católica, contou com cerca de 350 mil pessoas, de acordo com cálculos da polícia – o que o torna a maior manifestação em Paris em 20 anos -, ou 800 mil pessoas, segundo anunciaram os organizadores, da frente Manif pour Tous (“Manifestação para Todos”).
Os manifestantes vieram para a capital francesa em cinco trens de alta velocidade, 900 ônibus e inúmeros comboios de carros. A marcha partiu de três pontos diferentes de Paris e, após 6 quilômetros, os grupos convergiram para a frente da Torre Eiffel, exibindo faixas como “Não ao casamento unissex” e “Somos guardiães do Código Civil”, e outras bem-humoradas, exibidas por crianças, como “Feito por papai e mamãe”.
“Nada temos contra diferentes formas de viver, mas achamos que uma criança precisa crescer com um pai e uma mãe”, disse Philippe Javaloves, um professor de literatura que participou de uma caravana de 300 pessoas da Província de Franche-Comté, no leste do país.
A humorista Frigide Barjot leu um manifesto exigindo de Hollande a retirada do projeto de lei e pedindo um debate nacional antes de a lei ir à votação.
Além da hierarquia católica, uma coalizão híbrida composta de famílias religiosas, políticos conservadores, muçulmanos e evangélicos acabou minando nos últimos meses o apoio ao projeto de lei do governo, que deve ser votado no fim do mês na Assembleia Nacional. Pesquisas feitas em agosto apontavam em torno de 65% de apoio à lei, índice que caiu para 52%, segundo sondagem divulgada neste domingo.
Hollande contava com a maioria parlamentar para aprovar a lei sem maiores sustos. Mas a mobilização nos últimos meses, centrada no veto à adoção e no registro de crianças concebidas por meio de inseminação artificial por casais gays, ameaça a aprovação do projeto de lei.
Registro. A união civil de casais gays é autorizada na França desde 1999. Os opositores do projeto de lei querem impedir que a união civil homossexual adquira o status de matrimônio, para que pessoas do mesmo sexo não possam registrar filhos. Pesquisa da revista Le Nouvel Observateur mostra que o país está dividido sobre essa questão: 50% são contra a adoção de crianças por casais homossexuais. Apesar do peso do protesto de ontem, o governo Hollande promete não recuar.
Para o porta-voz da ONG Inter-LGBT, que defende gays, lésbicas e transexuais, Nicolas Gougain, a mensagem dos organizadores do protesto de ontem embute uma homofobia implícita. “O projeto de lei não propõe alterar os direitos das famílias heterossexuais, e sim reconhecer os das famílias homossexuais”, disse Gougain.
Fonte: O Estado de São Paulo